11 de fevereiro de 2009

Se não vai me levar aos Céus, nem me tire do Chão!

É isso mesmo! Meu chão é sagrado, pois é nele que eu sambo e lavo a alma. 


O samba para nós mulheres é tão importante quanto para os homens. Samba para nós não é um lugar onde rola uma “pegada” (odiamos esse termo que menospreza tanto os sentimentos humanos - mas esse é assunto para outro texto). Não vamos ao samba para isso. Somos mulheres fortes, felizes, sambistas, senhoras de si, curtimos o samba, as amizades, respeitamos o terreiro onde pisamos. Para nós, samba é Raça, é Raiz, é Tradição, é Cultura e, acima de tudo, é Respeito!


Quem disse que mulher não entende de samba?


Certa vez em um encontro, ouvi de um Malandro, um sambista com quem eu saia: -Você gosta mesmo de Roberto Ribeiro? É difícil mulher conhecer, que dirá gostar!” Fiquei perplexa! Que me desculpe este Malandro, mas tenho que alertá-lo: não é difícil mulher gostar de Roberto Ribeiro, nem de Cartola ou João Nogueira. Nós, mulheres sambistas, gostamos sim e entendemos muito de samba, sabemos avaliar uma boa percussão, um repique perfeito, o choro do cavaco, o bom samba, amamos samba de “entidade”, samba antigo feito com o coração marcado na caixinha de fósforo e que teve como testemunha da composição um terno de linho branco e o chapéu panamá.
E digo mais a este Malandro: ele tem saído com as patas do samba e não com mulheres sambistas. Nós não gostamos de samba para agradar os homens, mas sim a nossa alma!


As patas do samba, essas sim ficam na volta do palco, chocando o surdo, o tãm tãm, o pandeiro esperando uma sobrinha pra elas, sambam como ninguém, mas nem reparam o som que ouvem, só reparam se o carinha da banda é gato, reduzem o sambista, o músico competente ao “carinha”! Essas, com toda certeza, nunca ouviram falar de Zé Keti ou Jamelão. Estas sim estão ali pela pegada e não pelo samba, mas não julgamos no samba tem espaço para todas, só queremos deixar claro a diferente proposta de cada uma.


Samba é sim lugar de mulher! Sem nós mulheres, o samba não existiria. Somos musas, fonte de inspiração, somos o esteio do sambista nas horas difíceis. Somos as Tias do samba que cediam seus terreiros para roda de samba acontecer, que faziam a feijoada para o sambista ter força e fazer a roda entrar madrugada a dentro, que como Tia Ciata ou Tia Eulália dedicaram a vida ao samba e a seus sambistas!




Nas escola de samba, somos a madrinha da bateria que faz a comunidade chorar de emoção, somos a porta bandeira que carrega o pavilhão da escola com o mesmo amor que carrega um filho no ventre!


Homens, é hora de olhar o cenário do samba de maneira mais ampla e enxergar Beth Carvalho, Alcione, Leci Brandão, Graça Braga, Ivone Lara, Maria Rita, entre tantas outras mulheres que, além de sambistas, grandes intérpretes e compositoras, são DIVAS: mães, esposas, amantes, sambistas... e simplesmente mulheres. Exemplos de amor ao samba!


Todas nós somos um pouco Clara Guerreira. Mexam com nosso samba, mas esperem a trovoada!


Quando vamos a roda de samba queremos samba!


Claro que paqueramos, ficamos, bebemos, vivemos grandes amores, beijamos caras errados, vivemos o samba intensamente, mas nosso objetivo ali é o samba de qualidade.


Por isso dizemos: “se não for me levar aos céus nem me tire do chão!”


No chão eu sambo; meu terreiro é sagrado; Meu Samba lava a minha alma, me dá forças para continuar, na luta e na batalha diária.


O samba resgata a alma da gente, pois o sambista fala com o coração e nós assim como os poetas nos deixamos levar por esta magia e acreditamos sim que nós mulheres vamos ao samba e fazemos a diferença. Portanto, abram espaço nas rodas de samba. Pedimos licença, pois estamos chegando!


Salve a mulher Brasileira, cheia de charme, cheia de ginga e com muita malícia que veio ao samba mostrar do que é capaz!




Nessa Ratti


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Nossos agradecimentos a Araceli Auletta e a Marisa Santana, sambistas que fazem a diferença no samba e em nossas vidas e que colaboraram para esta matéria.

2 de fevereiro de 2009

Malandro é Malandro e Mané é Mané

Peço Licença ao Grande Bezerra para falar dos Malandros e dos Manés das rodas de samba vistos por nós, mulheres do samba.


Malandro na roda de samba é o cara que sabe o que quer, que antes de qualquer coisa AMA o samba acima de tudo, até mesmo acima de nós mulheres.


Malandro é aquele cara que mente pra você, te enrola o tempo todo, sabe dar desculpas como ninguém, e mesmo assim, você torce para ele estar na roda de samba quando você chegar, finge que acredita nas desculpas dele e ainda fala pras suas amigas “COM ESSE EU CASO!!!”


Malandro é o cara que vai para roda de samba pelo samba e pelos amigos. Mulheres??? Mulheres são detalhes, detalhes muito bem vindos, mas detalhes.


Nem todo gostoso é Malandro, mas todo Malandro é gostoso. Nem sempre é bonito, mas é gostoso!


Malandro é o cara que te liga às 2h da manhã e diz: “-Tô na sua porta. Vai descer ou subo pra conhecer a família?” E claro que você em pânico desce, pois sabe que ele é capaz sim de subir e conhecer a família. Você tem uma noite incrível e depois ele some por no mínimo 15 dias.


Malandro é o cara que invade o “seu samba”, te trata como uma princesa, saca que você curte tudo que envolve cultura e te convida para um cineminha depois do samba e te leva direto para o motel. E mesmo você NÃO cedendo aos encantos dele, ele não desiste de você.


Malandro é aquele que depois de sumir por 15 dias te liga e diz que VOCÊ sumiu, que não cuida dele e que ELE está com saudade.


Malandro, mas Malandro mesmo, é o cara que te protege de uma situação chata no samba e fica abraçadinho com você, só te acalmando, fazendo carinho, dando colo, não tenta nada. Mas faz você pensar nele a semana inteira, te deixa louca, subindo pelas paredes cada vez que você lembra daquele abraço, daquele encaixe perfeito. Ai você me diz: “-Mas ele não fez nada!” E eu te respondo: “-Malandro filho da p..., devia ter feito!”


E tem o Mané. Bem, o Mané vai ao samba atrás de mulher, muitas vezes nem sabe a diferença entre samba e, ui, pagode! Sempre louco pra se dar bem: se ele tem um amigo Malandro então! É na aba deste amigo que ele vai, ou melhor, tenta ir.


O Mané normalmente dança bem, usa a dança para atrair a mulherada, mas depois de duas músicas seu lado Mané fala mais alto!


Mané que é Mané não perde a oportunidade de ser Mané, desagradável, deselegante,inconveniente: simplesmente um Mané!


O Mané também vai pra sua casa às 2h da manhã, mas só depois de você acabar com ele pelo telefone ou MSN (Mané adora MSN). O Mané também liga quando chega: liga a cobrar!


Assim que chega ele deixa claro que não pode se envolver, que tem medo do que vai acontecer e que tudo está nas suas mãos. Enfim cria um clima perfeito para uma grande noite! Vale lembrar que ELE está tentando ficar com você há pelo menos 2 meses. Esse é o Mané que pensa que é Malandro.


E pior ele dá armas para as suas amigas te convencerem que a pegada dele é boa, mas não é a única e que é hora de você arrumar um Malandro!


Mané é o cara que te encontra depois de muito tempo na roda de samba meio alegre, soltinha e te convida pra cozinhar na casa dele (Mané gordinho). Você no auge de sua alegria diz que sim e ele diz que vai te ligar pra combinar. “-Céus que Mané!”


Mane é o cara que você convida para roda de samba e ele nunca dá certeza se vai mas jura que vai fazer o tudo para ir... ou é ou não é Mané!


Mané é a criatura que foi, investiu, seduziu e te ganhou. Ai fala pelos 4 cantos que “Pega, mas não se apega”. Você entra no jogo e sai com outro, afinal o Mané deixou claro que é só curtição. E ele fica bravinho, com ciúmes. E ai, Mané, que parte de pega, mas não se apega VOCÊ falou e não entendeu?


Enfim Malandro é Malandro e Mané é Mané.


A diferença fundamental para nós mulheres sambistas? Malandro é Malandro e Malandro a gente quer. Enquanto o Mané... é Mané!!!


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Nessa Ratti