1 de fevereiro de 2010

Em Fevereiro, tem Carnaval.

O calendário marcava o mês de Fevereiro; o ano, 2007. Mês do Carnaval. Carnaval para mim era apenas o que separava minha rotina de estudo de pré-vestibulanda dos meus últimos dias de descanso na vida. Não sabia o que era escola de samba e nem dava atenção ao desfile que passava incessantemente durante todos os dias na televisão.

Junto com o cursinho, tive a honra de fazer amizade com uma pessoa que me tirou do meu mundinho limitado para sempre. No meu tão ignorado mês do Carnaval e após ouvir dezenas de histórias dessa minha amiga sobre o famoso samba que ela freqüentava, resolvi conhecer também e tirar a visão que eu tinha de samba: um bando de velhos tocando em caixas de fósforo ou um grupinho de pessoas mal vestidas dançando em coreografia brega com passos idênticos.

Era um sábado ensolarado. O dia era propício para uma alegria sem tamanho que estava por vir. Ali na esquina dos sonhos com a razão, como disse Marisa Monte. Ali viria se tornar o meu cantinho escondido, meu refúgio, meu porto seguro: no coração de São Paulo. Ali, bem perto da esquina da Ipiranga com a São João.

Ao virar a Consolação com a rua João Guimarães Rosa, já senti uma alegria sem tamanho. Ao caminhar até a entrada, pude ter uma visão geral do lugar: mesas na rua, parte da calçada tomada pelo bar e um cantar energizante. Entrei decidida a encarar o samba como jamais tivesse tentado entender.

O bar era tomado por famílias estruturadas, crianças, adultos, solteiros, casados, avôs e avós. Pessoas de todas as idades prestigiavam ali, naquela tarde ensolarada de Fevereiro mês do Carnaval, os batuques e o cantar dos sambistas. Estremeci quando entrei. Não conhecia nenhuma música, mas era algo que vinha de dentro que quase me fazia sair sambando ali mesmo.

Ao longo da noite, todas as músicas já haviam se tornado trilhas sonoras da minha vida. Guardava cada estrofe na memória para no dia seguinte procurar e aprender a cantar. O mais incrível eram as pessoas. Desconhecidas, que de uma hora para outra tornavam-se melhores amigos, confidentes, psicólogos.

Ao final da noite, ao ouvir ao som de Graça Braga "Vou Festejar" fui atingida por um tiro certeiro que apenas me dizia uma coisa: eu precisava voltar àquele samba. E assim foram outros sábados, meses, anos. Eu diria que o samba da Roosevelt é bem mais do que contagiante. É energia inexplicável que nos toca e nos acende a cada vez que ouvimos um cantar, um choro ou uma batucada. Na verdade, isso acontece em qualquer samba. Sambista toca com o coração. Carrega sua vida em sua música. Mas é bem mais do que energia. É o que nos dá forças para a vida. É o toque que nos alegra para a semana. É o porto-srguro; o lavar a alma; o encontro das amigas; o afogar das frustrações dos amores perdidos e situações casuais. Foi a partir do ano de 2007, que meu Fevereiro sempre foi de Carnaval...


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Nuria Aluz

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