1 de outubro de 2009

Vou continuar sambando sim, Senhor!


Eu, sambista assumida de corpo e alma, que tenho Ogum como meu protetor e Iansã para guiar meus caminhos, me aventurei pelo mundo do rock nos últimos meses!


Gosto de boa música, de bons músicos e claro, o universo do rock realmente nos oferece isto de bom grado. Claro que assim como no samba, que nem tudo que faz o cavaco chorar é samba e pode ser um “pagodinho” ui, no rock nem tudo que faz a guitarra vibrar é rock e pode ser um “emozinho” ui. Nada contra o Skank ou o Jota Quest, mas que fique claro que estou falando de Led Zeppelin, Queen, Guns e Scorpions. Claro sem esquecer Pink Floyd, Ramones e os nacionais como Paralamas, Barão e Legião.


Descobri universos muito diferentes, mas cheios de semelhanças!


Onde os seguidores são muitos, mas os conhecedores são poucos. De gosto musical apurado os rockeiros fiéis têm em sua maioria mais de 30 e reúnem-se de maneira discreta, em locais aconchegantes, onde o bom rock pode ser apreciado regado a muita tequila e whisky 18 anos, bem diferente do samba onde tudo acaba em chopp, cerveja e caipirinha e que qualquer mesa de bar, quebrada da comunidade, garagem ou grande casa de show podem dar início a uma boa roda de samba!


Os apreciadores então, difícil definir: das crianças aos velhos, o samba corre nas veias e os grandes mestres do samba morrem velhinhos pedindo ao sambista mais novo que não deixem o samba morrer, enquanto os grandes nomes do rock morreram de maneira trágica, de overdose ou pararam no auge de suas carreiras com um super cd de encerramento edição limitada para poucos colecionadores comprarem e com isso viraram lendas vivas. (Pasmem: paga-se milhões por um desses cds)


Outro ponto muito interessante de se avaliar/apreciar são as mulheres! Lindas em sua essência, belas cada qual a sua forma, as rockeiras mostram a maturidade da idade e as marcas do tempo na pele muitas vezes maltratadas pelo álcool, cigarro e noitadas. As mais jovens carregam na maquilagem para parecer mais velhas. Olhos! Os olhos sempre pintados de preto trazem a intensidade de muito sentimento e são o espelho da alma dessas mulheres fortes e piradas que dançam quase que em transe diante das bandas, balançando longos cabelos (em sua maioria negros ou ruivos) e de maneira sensual entram na viagem musical dos bateristas e baixistas que neste momento sequer percebem que em sua frente existe uma bela mulher que fora levada quase que ao transe por sua música.


Já no samba a mulher é a fonte de inspiração máxima. Lindas e muito bem tratadas, as mulatas capricham no visual se entregam a roda de samba sabendo que estão ali para inspirar cada músico e cada nota musical. Na grande maioria louras e negras, dominam o samba e os sambistas. Nada acontece sem elas: mulheres fortes e guerreiras, donas de casa e esposas devotadas viram princesas, são coroadas rainhas no terreiro onde rola o Seu samba!


Diferenças à parte, não há como negar que estes são os únicos gêneros musicais que resistem ao tempo e perduram como cultura, respeitando a música em sua integralidade, fazendo com que seus verdadeiros apreciadores tenham bagagem musical, entendam a história das composições e que acima de tudo entendam de música. Claro que toda regra tem sua excessão. Pois assim como no samba, temos os manés que vão ao samba sem saber a diferença entre o grupo Pixote e Monarco, temos também no rock os babacas que vão a um concerto sem saber a diferença entre KLB e Queen. Mas os rockeiros de verdade esses sim conhecem a boa banda pela afinação do baixo ou pela forma que o baterista marca suas batidas, músicos que tem prazer em ouvir um bom clássico e respeitam a banda que toca na noite, por prazer ou como ganha pão assim como os malandros e boêmios respeitam os sambistas, que fazem a diferença em cada acorde do banjo, do cavaco e do violão.


O rock, com clássica e notória influência americana, foi difundido no Brasil na década de 40 por Nora Ney e, acreditem, o primeiro rock gravado no Brasil foi 'Rock and Roll' em Copacabana de Cauby Peixoto! É surpreendente estudar a cultura e a história de um gênero musical. Por este exemplo nem preciso dizer o quanto o rock passou por transformações e influências diversas. Os americanos foram de Elvis a Michael Jackson e nós rockeiros tupiniquins saímos de Cauby Peixoto e chegamos a Ratos de Porão, passando por Cazuza e Barão!


Já o tradicional samba dos escravos teve sua primeira versão brasileira gravada em 1916 por Donga e Mauro de Almeida, 'Pelo telefone', marcando o início do mercado fonográfico do gênero, passando por Cartola, Assis Valente, e chegando a Arlindo Cruz, Almir Guineto, entre tantos outros grandes mestres do samba!


Universos tão distantes com particularidades tão semelhantes, que tem como principal objetivo manter a história de um povo, traduzindo sentimentos e marcando épocas, mas acima de tudo, trazendo felicidade e unindo pessoas em prol de um objetivo único: a alegria. Alegria esta presente em cada acorde, cada letra, cada refrão, independente do gênero musical, sem ser tendenciosa, mas já o sendo após esta rápida porém muito produtiva e agradável passagem ao mundo do rock. Posso falar com toda certeza que para mim nada se compara ao Meu Samba! Nasci sambista e como sambista mais nova faço minha parte não deixando o samba morrer, não deixando o samba acabar e tendo certeza que ainda tenho muito para sambar!


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Nessa Ratti

2 comentários:

  1. Maravilhoso texto e sensacional a iniciativa. Parabéns a voces meninas. Apenas um adendo o primeiro samba gravado chama-se PELO TELEFONE e não Por Telefone e também foi no ano de 1916 e não em 1917. Beijos e sucesso.

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  2. Paulistanas Sambistas2 de outubro de 2009 às 09:38

    Salve nosso querido Paulo Sergio,obrigada pelo carinho e pelas observações, é muito bom poder contar som seus adendos e ajuda costumeira!!! Este espaço estara sempre a sua disposição é só chegar Bjs Nú, Pam, Nessa

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