3 de novembro de 2009

Um pouco de nossa História: o Samba!

Recebi este texto via email e decidi dividi-lo com vocês!
Muitos amigos me perguntam sobre a origem do samba e eu não resumiria a história de maneira melhor.


Grande beijo e muito Axé,


Nessa Ratti




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"A palavra Samba derivada do banto semba - umbigada -, gesto coreográfico quase onipresente na expressão corporal dos negros africanos desde a sua introdução forçada no Brasil, veio, a partir do século XIX, designar uma variedade enorme de bailes tradicionais, anteriormente identificados genericamente como batuques. Estes, se, por um lado, realizavam-se com pouca ou nenhuma presença de instrumentos harmônicos, sedimentavam, de outro, a rica linguagem do canto polifônico e a força percussiva dos tambores, marca que acompanha a identidade da música brasileira perante o mundo.




Não é possível, portanto, afirmar que o Samba é baiano, carioca ou de qualquer outro lugar. Ele aparece simultaneamente em vários pontos do Brasil, com variadas formas, porém, mantendo a essencialidade da música praticada pelos africanos. Assim, encontramos o Samba de norte a sul do país, não obstante o termo estar, hoje em dia, ao nível do senso comum, associado estritamente ao contexto carioca, ele mesmo, por força de sua intensa dinâmica criativa, derivado em múltiplas direções. Samba Canção, Marchas e Marchinhas, Samba de Breque, Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba Enredo, dentre outras variantes, são produtos da verve sambista fluminense.No Estado de São Paulo ocorre uma modalidade de Samba muito especial denominada, de acordo com a época e a localidade, Samba Antigo, Samba Caipira, Samba Campineiro, Samba de Pirapora, Samba de Terreiro, Samba de Umbigada, Samba Lenço, Samba Paulista, Samba Sertanejo, Batuque, ou, entre seus praticantes, simplesmente Samba. O termo Samba de Roda, mais conhecido e associado a uma modalidade praticada na Bahia, também é utilizado pelos sambistas de Pirapora do Bom Jesus para esta manifestação, que os estudiosos do assunto, por sua vez, preferem denominar Samba Rural ou Samba de Bumbo.Segundo relato de sambistas paulistanos, o Bumbo e as demais características deste Samba específico, como os Bonecões e Cabeções, desapareceram da capital a partir da oficialização do modelo carnavalesco do desfile das Escolas de Samba carioca em 1968. Esse processo havia se iniciado já no século XIX, com a importação dos bailes de máscaras e dos préstitos das Grandes Sociedades Carnavalescas inspiradas nos carnavais europeus não-ibéricos, considerados mais civilizados perante o "bárbaro jogo do entrudo", que aqui se praticava desde tempos coloniais. A importação do padrão carioca continua com a formação dos primeiros Cordões carnavalescos na década de 1910, inspirados por sua vez nos Ranchos, e continua ainda nos anos 1930, com a fundação das primeiras Escolas de Samba. No entanto, até bem pouco tempo, o Samba na cidade de São Paulo esteve intimamente vinculado ao Bumbo, hoje, praticado somente em localidades do interior do Estado como Mauá, Santana de Parnaíba, Vinhedo, Quadra e Pirapora do Bom Jesus.


Inicialmente associado aos cultos de devoção a São Benedito e a outros padroeiros, como São João, os sambistas elegeram como ponto de encontro a cidade de Pirapora, transformada em santuário desde o século XVIII com a descoberta de uma imagem do Bom Jesus às margens do rio Tietê. Os romeiros que afluíam entre os dias 3 e 6 de agosto, todos os anos, eram constituídos, em grande medida, por pessoas negras. A parte "profana” do festejo ficava a cargo do Samba que estes promoviam ao som de Caixas, Chocalhos, Pandeiros, Cuícas e outros instrumentos liderados pelo bumbão, nos barracões onde se alojavam. Havia muita disputa entre os “batalhões” das diferentes cidades, onde os bambas testavam habilidades no improviso, desafiando-se. Com o tempo, avultando-se a festa paralela dos negros, a igreja decidiu interditar os barracões e proibir o cortejo dos cordões carnavalescos que vinham de São Paulo e de outras cidades. Quem se interessa pela história do samba paulista, imediatamente é conduzido à festa do Bom Jesus, reduto onde por pelo menos 50 anos se praticou o que havia de melhor em termos de Samba no Estado, um verdadeiro festival destruído pela igreja e pelo poder público com justificativas de toda ordem, mas, sobretudo, impondo uma moral conservadora e de fundo racista. Tal fato contribuiu para a suspensão deste momento mágico de encontro entre os grupos, que nunca mais ocorreu, empobrecendo a manifestação do Samba de Bumbo como um todo.A pujança da cidade de São Paulo decorrente de sua centralidade na formação da economia cafeeira e depois industrial fez com que muitos negros migrassem das áreas rurais para a capital, trazendo na bagagem a esperança de uma oportunidade de vida melhor e, a reboque, o Samba que praticavam no interior. Até a década de 1930, realizava-se o Samba em todos os redutos negros da capital paulista como o Bexiga, Barra Funda, região do Lavapés/Liberdade, Brás, Mooca e Penha, além dos bairros do Jabaquara e da Saúde. Como foi dito, as personalidades centrais ligadas ao nascimento dos Cordões carnavalescos em São Paulo freqüentavam os barracões de Pirapora, e promoviam sambas do gênero em suas casas e vizinhanças, como Dionísio Barbosa, fundador do cordão e, posteriormente, Escola de Samba Camisa Verde; Geraldo Filme, liderança dos cordões Campos Elíseos e Paulistano da Glória; além de madrinha Eunice, fundadora da primeira Escola de Samba de São Paulo, a Lavapés (1937), e, de Dª Sinhá, do Cordão e, posteriormente, Escola de Samba Vai-Vai. Esses blocos carnavalescos desfilavam sob a cadência da Zabumba, com as mesmas marchas sambadas características do Samba de Bumbo. Os mesmos personagens também conheceram a legendária Tiririca, forma primitiva de Capoeira ou Pernada, praticada ao som do Samba, sendo os golpes desferidos em meio aos passos da dança.


Após alguns anos de aproximação do Carnaval paulista do padrão carioca de festejar Momo, assistimos a uma forte reação dos sambistas locais, que tentam construir espaços alternativos e menos comerciais para a prática da poesia e do ritmo do Samba de terreiro. Iniciativas como as do Samba da Vela, Samba da Laje, Pagode do Cafofo, Nosso Samba, Pagode da Tenda, Choro da Tia, Terreiro Grande, Samba da Tenda, Samba do Baú, dentre outros, além de uma forte ocupação de casas de espetáculo e bares com programação de qualidade elevou em muito o padrão do Samba praticado em São Paulo nesta virada do século. O surgimento de novos compositores e intérpretes reunidos neste projeto só demonstra o que acaba de ser dito".




Autor: Marcelo Manzatti

Um comentário:

  1. nossa, incrível! eu tive aulas sobre samba, mas não sabia de muitas dessas coisas. eu só sabia das histórias da tia ciata no rio e dessa lavapés como primeira escola.
    obrigada pelos ensinamentos. haha
    beeeijo

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